27 SET 2023

Famílias de doadores de órgãos são homenageadas no HU-UEPG

Você pode doar vários órgãos, mas tudo depende do coração. No Dia Nacional da Doação de Órgãos, 27 de setembro, os Hospitais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG) receberam as famílias de doadores para agradecer pelo ato de amor, lembrar a importância de dizer “sim”, mesmo em meio à dor da perda de um ente querido, e homenagear àqueles que continuam a vida em outras pessoas.

No último ano, 16 famílias aceitaram doar os órgãos de pacientes internados no HU-UEPG. Foram 41 órgãos captados, que tiveram como destino salvar vidas de pessoas que aguardavam na fila de espera por transplantes. Cada um é representado por uma folha da Árvore da Vida, em formato de estrela, com corações que representam cada órgão doado. Eles se uniram a mais de 100 estrelas na árvore do HU, que fica no saguão do Hospital em exposição permanente. A cerimônia é realizada desde 2017, sob a organização da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (Cihdott).

“É um evento para agradecer a essas famílias que transformaram um momento de dor em compaixão”, destacou a diretora geral dos HUs, professora Fabiana Postiglione Mansani. “Um coração sensibilizado é capaz de mover o mundo”.

Na cerimônia, que conta com música e homenagens, um familiar de cada doador é chamado para pendurar as estrelas e corações na Árvore da Vida. A base da árvore tem três raízes, representando o doador, o paciente que recebeu a doação e a equipe hospitalar multiprofissional que realiza o processo de intermediação dessa relação. Tudo fica ainda mais emocionante com a contribuição do cantor Lucas Alem, que participou voluntariamente do evento em todas suas edições.

Um pequeno conforto para quem perde um familiar: saber que outras pessoas continuam vivendo graças aos órgãos doados. “Existe muita vida; vida em abundância. É a vida que segue, dando sentido à existência de outras pessoas, outros pais, outras mães, outros filhos e filhas, maridos e esposas”, resumiu a professora Gisele de Sá Quimelli, que coordena a Capelania dos HUs. Para uma plateia de olhos marejados de saudade e de emoção, ela falou sobre como o transplante de órgãos é, muitas vezes, a única esperança de vida ou oportunidade de recomeço para quem espera. “É um gesto de solidariedade”.

Lidiane Bueno Ferraz da Rocha espera por um transplante de fígado. Sempre que visitava a família do marido, que mora na zona rural, eles lhe perguntavam sobre como estava a perspectiva por receber o órgão. Inesperadamente, o tio do marido ficou internado no HU-UEPG, faleceu e a família aceitou a doação de órgãos. Só por este fato e por ter acompanhado de perto a internação, já foi emocionante, para ela, representar a família na homenagem desta quarta-feira. Mas quando conferiu o coração pendurado abaixo da estrela com as iniciais do tio, a surpresa: o órgão que pôde ser doado foi justamente o fígado. Não tinha como conter a emoção. “Eu preciso de um sim, como esse, de uma família que vai tomar essa decisão quando chegar a hora”, desejou.

Gratidão, palavra que designa o sentimento de reconhecimento por um auxílio ou benefício prestado por alguém, define também o que Lidiane sentiu ao ver todos aqueles corações e estrelas pendurados na Árvore da Vida. “É um ato de muito amor e de vida”, definiu, emocionada.

Quantas vidas?

Se você soubesse que poderia ajudar outras pessoas mesmo após a morte, você ajudaria? No Brasil, no primeiro semestre de 2023, mais de 1,9 mil famílias disseram “sim” para esta pergunta e aceitaram doar os órgãos de seus entes queridos. O número é recorde, quando comparado ao mesmo período dos últimos dez anos, e representa um aumento de 16% em comparação com os meses de janeiro a junho de 2023. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o Paraná é o estado com maior número de doações efetivas de órgãos para transplantes em 2023. Somente no HU-UEPG, o aumento de 2021 para 2022 foi de 77% na captação de órgãos.

Como funciona o protocolo de doação de órgãos e tecidos dentro do Hospital?

O processo é composto por muitas etapas: desde o momento em que se detecta a possibilidade de morte encefálica em um paciente até a efetivação de um transplante de órgãos, são muitos profissionais envolvidos e uma série de decisões tomadas com responsabilidade e respeito. Morte encefálica é nome legal dado ao óbito de um paciente: é a interrupção irreversível das atividades cerebrais.

De acordo com as orientações da Secretaria de Saúde do Paraná, é preciso que a avaliação da morte encefálica seja feita por dois médicos de diferentes áreas, por meio de um complexo protocolo de exames clínicos e exames complementares. O intuito destes procedimentos é eliminar as dúvidas no processo e comprovar que, realmente, não há mais nenhuma atividade cerebral.

Quando se confirma a morte encefálica, o primeiro passo tomado pela equipe é garantir que haja um entendimento por parte dos familiares do que significa a morte cerebral e uma compreensão da situação. É só depois de garantir o controle emocional que se oferece a possibilidade de ajudar outras pessoas por meio da doação de órgãos.

Há um cuidado especial na forma de tratar o assunto, de acordo com o enfermeiro Guilherme Arcaro, diretor de enfermagem do HU. “São utilizadas técnicas para a abordagem da família, oferecendo sempre o apoio emocional e explicando de forma clara como funciona o processo de doação”, explica. “Buscamos tirar as dúvidas e superar preconceitos que são comuns quando se trata deste assunto”. Guilherme destaca, ainda, a importância de comunicar à família o desejo de ser doador e conversar com os familiares sobre essa possibilidade.

Quem pode doar?

Todo paciente de hospital que esteja em morte encefálica é um potencial doador. Segundo a Central Estadual de Transplantes, são contraindicações para a doação de órgãos e tecidos as doenças infectocontagiosas, câncer e infecções graves. No caso de infecções que estejam respondendo a tratamento, é possível doar.

Cada doador pode salvar várias vidas: pode-se doar o coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado, além de tecidos como córneas, pele, ossos, válvulas cardíacas e tendões. A determinação de quais órgãos podem ser doados é através de uma avaliação clínica de viabilidade. “Além disso, há um respeito ao prazo máximo pedido pela família para liberação do corpo: órgãos como pele e ossos precisam de mais tempo para retirada”, complementa Guilherme.

Texto e fotos: Aline Jasper
Mais fotos estão disponíveis no site da UEPG.